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Evermore: a segunda dose de ressignificação a um momento tão delicado

Em 11 de dezembro de 2020, dois dias antes do seu aniversário, a cantora Taylor Swift presenteou os fãs com o lançamento de mais um álbum surpresa: “evermore”. Repetindo a estratégia do disco anterior, lançado cinco meses antes, a cantora fez um anúncio inesperado sobre o novo trabalho nas redes sociais, horas antes do lançamento: “Nós não conseguimos parar de escrever músicas”.

Evermore é o nono álbum de estúdio de Swift e foi criado, em sua maioria, através da mesma fórmula anterior: com o produtor e cantor Jack Antonoff (Bleachers), parceria já antiga, e Aaron Dessner, integrante do The Nationals, banda que também está presente em uma das faixas do disco.

Intitulado pela própria cantora como o álbum irmão de “folklore”, “evermore” pode ser considerado um trabalho complementar ao disco que o antecede. É uma obra intimista, experimental e minimalista, distanciando-se dos trabalhos anteriores da cantora, como o romântico e colorido “Lover” ou o escuro e pesado “reputation”.

O álbum conta com uma pegada indie folk e é possível ter essa sensação já com a primeira música: “willow”, que introduz a obra a partir de um instrumental leve, passando uma sensação de magia e conforto.

Tolerate it, Happiness e Marjorie são as músicas que mais marcam o tom triste do álbum. A cantora tem uma marca registrada de colocar na faixa 5 de seus álbuns as músicas mais marcantes. Nesse disco, a escolhida foi “tolerate it”, música que conta a história de alguém que faz de tudo para ser reconhecido e valorizado pelo parceiro, que apenas o tolera. A voz da cantora, somada ao instrumental, destacam de forma excepcional essa vulnerabilidade e esse tipo tão específico de dor, fazendo jus à posição de “faixa 5”.

“happiness” é uma faixa que inicia-se destacando os vocais limpos da cantora, criando uma expectativa para quem ouve. No decorrer, percebemos que Taylor canta sobre a experiência do fim de um relacionamento de sete anos e que, apesar de estar no passado e ter deixado marcas, também proporcionou momentos felizes. A canção é uma das mais maduras da carreira da artista. Já em “marjorie”, a melancolia é bem mais presente, visto que é um tributo à avó, Marjorie Finlay, cantora de ópera e figura que incentivou Taylor a seguir a carreira musical. A música aborda o sentimento de luto e a saudade sentida pela cantora. É possível inclusive, em certo momento da canção, ouvir os vocais de Marjorie que foram incluídos ao fundo.

Além de excelente vocalista e compositora, não é segredo que Taylor é uma ótima contadora de histórias, capaz de fazer o ouvinte absorver e mergulhar ainda mais nas canções. Neste álbum não é diferente e a cantora utiliza desse recurso diversas vezes. “no body no crime”, música em parceria com a banda HAIM, relata a história de Este, uma mulher que desaparece após confrontar o marido sobre infidelidade. Apesar da escassa participação das irmãs Haim na música, que oferecem apenas vocais de fundo, “no body no crime” conta uma história quase que de cinema, prendendo o ouvinte até o fim. Já em “ivy”, somos apresentados a um romance proibido, entre uma mulher comprometida e seu amante. Aqui, a temática da infidelidade se repete, mas a partir de uma perspectiva diferente.

Em uma das melhores músicas do álbum, “cowboy like me”, a cantora nos leva de volta às origens dos trabalhos iniciais, trazendo um toque de country na faixa. Além da voz de Taylor, a música também traz um quê a mais com os vocais de Marcus Mumford (Mumford and Sons) que, juntamente com a melodia, mesclam-se de forma harmoniosa. Ademais, diferenciando-se um pouco do “folklore”, álbum sonoramente mais melancólico, Evermore traz faixas mais animadas e experimentais, como: “gold rush”, “long story short” e “closure”.

Para fechar o álbum, temos a faixa “evermore”, com a participação de Bon Iver. A canção pode ser interpretada como um resumo de todas as histórias contadas e finaliza com uma trecho importante: “Eu tive uma sensação tão peculiar/Que esta dor não seria para sempre”. Assim, todos os sentimentos, histórias e situações contadas ao longo do álbum não serão para sempre, nem mesmo a dor.

Em meio a tempos tão difíceis e atípicos, “evermore” é o produto de uma artista em inquietude. O álbum é, mais uma vez, uma forma de escapismo não só para a cantora que, através das letras e melodias, é capaz de experimentar e ressignificar um momento tão delicado para si, mas também para quem ouve. Através do cirúrgico storytelling de Swift, somos apresentados a diversas histórias, fictícias ou verdadeiras, e, mesmo que por algumas horas, temos a oportunidade de escapar e mergulhar em outro mundo. Em suma, “evermore” é um dos melhores e mais concisos trabalhos da artista.